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04 janeiro 2006

Feudo-tirou

Num dos frequentes levantamentos dos burgueses portuenses, ocorridos ao longo de séculos contra o domínio episcopal, alguns delegados régios mandaram saquear e derrubar as casas de alguns cónegos partidários do bispo. Questão de poderes. No trono estava então D. Sancho I, rei de Portugal... e dos Algarves que viria a perder. A este interessava reduzir o domínio do bispado do Porto, pertencente a Martinho Rodrigues, um bispo de má catadura, uma vez que tinha contra ele a maioria dos membros do cabido da Sé.



O povo... associou-se aos tumultos arrombando as portas das igrejas e introduzindo no interior os excomungados. Segundo Sampaio Bruno, que nos conta esta história no I tomo do seu interessante Portuenses Ilustres, dado à estampa em 1907, esta situação durou cinco longos meses, com «o bispo encerrado no palácio episcopal, em tão estreito assédio que nem sequer lhe consentiram entrasse um sacerdote, a confessá-lo, numa enfermidade que lhe sobreveio.»

Martinho Rodrigues acabaria por fugir o que levou o poder real a confiscar os seus avultados bens e os da mitra. Chegado a Roma «em tal estado de miséria que movia à compaixão», pôs o Papa ao corrente dos seus padecimentos. Perante tal desmanda, Inocêncio III apressou-se a dirigir cartas ao bispo e arcediago de Zamora e ao abade beneditino de Mosconela, «nas quais lhes dava comissão para compelirem Sancho I a reparar os danos praticados e a dar satisfação das injúrias feitas ao prelado.» Mandou igualmente que «fulminassem a excomunhão contra os oficiais do rei, instrumentos da perseguição, e especialmente contra dois burgueses, que parece haverem sido os chefes do levantamento popular.»



Um desses burgueses era João Alvo, e o seu companheiro um tal Pedro, que ficou conhecido pela alcunha popular de «Feudo-tirou». Os restantes burgueses portuenses que tinham lutado pelos seus foros, acabaram abandonados pelo rei poeta e ferozmente perseguidos pelo poder episcopal.

Sobre os vencidos destes tumultos, sentenciou Alexandre Herculano, ainda segundo Bruno:« (...) os seus inimigos, conservando os documentos do triunfo obtido, transmitiram-nos involuntariamente a memória desses homens enérgicos, e os nomes de João Alvo e Pedro «Feudo-tirou» (...) podemos hoje estampá-los nas páginas da história, o grande e indestrutível livro da linhagem popular.»

O fim do feudo, que Pedro acabou por não tirar, seria negociado dois séculos mais tarde, a 13 de Abril de 1406, por D. João I, conforme relatou Germano Silva numa crónica recentemente publicada no Jornal de Notícias, em que apela para a comemoração dos 600 anos de autonomia administrativa do Porto.

14 outubro 2005

A ponte e a praça





A ponte e a Praça da Ribeira, revisitada, já com a marca do Outono. Lá no alto, uma afirmação de poder perdido no tempo: o imponente Palácio Episcopal.