09 junho 2005

Reflectindo



No início dos anos noventa veio parar-me às mãos, por empréstimo, um álbum com fotografias do Porto tiradas por um cidadão inglês, fotógrafo amador, na última década do século XIX. Entre os inúmeros originais fotográficos havia uma imagem esplêndida, tirada do miradouro da Vitória, que mostrava todo o vale fronteiro à Sé. A curiosidade levou-me a reproduzir a fotografia e a deslocar-me ao local - o largo socalco onde esteve instalada uma bateria de artilharia durante o Cerco do Porto - para observar as diferenças.
Deparei com um edifício de construção recente, um balneário, que sendo útil para a população residente, constitui uma intervenção infeliz por ter tapado parte da vista do miradouro. Como se isto não fosse suficiente para provocar descontentamento, enfeitaram-no com um conjunto de antenas retransmissoras de uma rede de telefones móveis.
O edifício, como muito outros remodelados no centro histórico do Porto, o tal que é património da humanidade, apresenta na fachada oposta à da fotografia um adiantado estado de degradação. Degradação mais próxima do aviltamento que atinge os objectos de consumo que acabam no lixo, e nestes incluo um grande leque que pode ir do automóvel à embalagem tetrapack, do que da serena e respeitável decadência provocada pela marcha implacável do tempo.

06 junho 2005

2 de 40 Horas Non-stop em Serralves



A assistência ao espectáculo do malabarista Vicent de la Lavenère,



o enquadramento de uma das oficinas para crianças...



... e a provocação: o Karaoke Bouquet. Um tentador estúdio improvisado...



... e o subsequente momento de fama, para os mais ousados, no interior do museu.

03 junho 2005

Dias de sol

nos jardins do Palácio de Cristal








Referências:

1
«O Palácio de Cristal marcou no Porto a era britânica; a sua influência ríspida, o seu snobismo de colonos cujo espírito às vezes se apura entre o desdém e o fracasso.»
(...)
«Ainda conheci o Palácio de Cristal como o quer ver o Roteiro do Porto, com as naves onde se iam fazer corridas de patins, com um reboar de madeiras que parecia o escalar dos ossos da baleia branca. Era um pouco isso o Palácio: o ventre de um monstro donde se via o mar verde das tílias, onde se expunham rosas em Maio e a pele fumosa da "rainha Cláudia".»
(...)
«O Palácio de Cristal estilhaçou-se para dar lugar ao que se chamou a Calote Esférica, uma espécie de estádio espacial que, de noite, parece uma nave pousada entre o arvoredo, com as vigias iluminadas e tudo.»

Agustina Bessa Luís


2
«No entanto toda a envolvente do palácio permaneceu estonteante, os jardins cobertos de magníficas plantas e sumptuosas árvores; são, ainda hoje, dignas de realce as longas avenidas da entrada decoradas com plátanos e tílias frondosas.»

Porto XXI

01 junho 2005

A luz e a sombra

José Alexandre Ramos comentou a entrada anterior opondo-se ao lugar-comum que diz que o Porto é uma cidade escura, afirmando que a antiguidade e a condição granítica da cidade, conjugadas com o clima, resultam na característica patine portuense.

Patine que tanto pode ser interpretada como «escuridão», por um olhar apressado, como tem sido fonte de inspiração de inúmeros autores, das artes plásticas à literatura.

Outro comentário, o de Mendes Ferreira na sua escrita sentida:
«Escuro o Porto? não de todo. O Porto tem aquela terrível e indizível luz/claridade das pedras, da grandeza dos contrários, dos infinitos estendidos desde a Foz à Ribeira, desde o sol ao entardecer. A luz do Porto é um mistério que se abre depois de fecharmos o olhar sobre o mar.»

Já para José Pacheco Pereira, «as cores do Porto (...) são difíceis de ver e mostrar».

Pegando nas três referências à luz do Porto, motivadas por este blogue, decidi percorrer o sinuoso caminho de as ilustrar. Nada que não tenha já sido feito aqui, só que desta vez o que preside são as dicotomias luz e sombra, e a cor por oposição à sua quase ausência.






Como nota de rodapé, recomendo uma visita à página pessoal de António Amen que, num esforço louvável, nos presenteia com um exaustivo levantamento fotográfico do Porto.