17 agosto 2005

Há Festa na Aldeia



Uma voz mais uma trompete, duas violas, um acordeão e um violino. Cinco instrumentos acústicos nas mãos de músicos populares experientes fazem a festa, tocando modinhas antigas no adro da igreja desenhada no ar da noite quente.



O local? Penha Longa no Marco de Canaveses, uma freguesia talhada em socalcos, como todo o vale do Douro, na margem direita do rio que banha a cidade surpreendente.

12 agosto 2005

No Molhe - 2



Numa placa mal conseguida, colocada há alguns anos no Molhe, pode ler-se: «Em meados do século XIX era já funcional este porto de abrigo, o porto de Carreiros, para facilitar o desembarque de passageiros, correio e bagagens a partir de navios fundeados ao largo quando a vasante (sic) na barra do Douro não dava entrada».

Isto é, o Molhe foi construído como paliativo porque não era a solução definitiva para o problema da barra. Essa viria mais tarde com a abertura do Porto de Leixões e o consequente abandono do Porto do Douro.

Houve, entretanto, outras soluções para amolecer a entrada do rio, como o aterro do Passeio Alegre, onde assenta o actual jardim, e o paredão em cuja extremidade está o Farol de Felgueiras.



O Molhe, que cumpriu a sua missão de cais e deu nome a uma rua e a um lugar, ficou para o presente como uma fenda de terra no mar, um agradável miradouro que nos permite observar com algum recolhimento a praia e o casario da Foz.



Com um pouco de imaginação é até possível olhá-lo como um enorme e pesado batelão orientado para o Atlântico Sul, a navegar, a navegar...

08 agosto 2005

No Mercado do Bolhão



A doença do Mercado do Bolhão estava diagnosticada há muito e só por falta de vontade não se lhe aplicou o tratamento adequado. Agora, com porta da Rua Formosa fechada e a ala Sul evacuada, deitam-se as mãos à cabeça e improvisam-se obras que garantam a segurança de pessoas e bens. Obras que, está prometido, durarão quinze dias.



Apesar disto o velho mercado, reduto da identidade tripeira, resiste.
Do meio dos comerciantes de frutas, apertados nas escadas, uma voz enérgica sobressai: «É para uma revista? Diga lá que o mercado está aberto!!!».



Está aberto e recomenda-se, apesar da nota de desânimo patente no rosto dos comerciantes. A avaliar pelo movimento no Sábado de manhã, o vaivém de clientes é constante.



Com alguns dos pequenos restaurantes a funcionar em pleno, havia de tudo à venda.



Até peixe, apesar de o local tradicional das peixeiras, que se pelavam por besuntar políticos precisados de banhos de multidões, estar vazio. Só os talhos estão fechados.



Não resisto a deixar aqui uma sugestão: experimente meter-se no metro, sair à porta do Bolhão e fazer lá as compras. Eu assim fiz e não me arrependi. E depois... até a rua de Sá da Bandeira está tão aprazível nesta altura do ano, com árvores, flores e a luz reflectida pelos passeios claros de calcário e basalto...

04 agosto 2005

Não é neblina, é fumo!



Assim foi hoje de manhã. Enquanto uma voz sorridente anunciava na rádio «bom tempo», eu tinha diante de mim indícios de um cenário dantesco: toda a cidade do Porto coberta pelo fumo proveniente dos fogos florestais que devoravam aquilo que resta dos bosques do distrito mais incendiário de Portugal.

Continuamos, Verão após Verão, a provocar alegremente o fogo nas matas por todo o país. A tragédia é anunciada pela manhã com o eufémico «bom tempo» e é-nos servida como grande espectáculo pelas televisões ao entardecer.

Miserável esta terra que se deixa arder e a ficar a ver.