17 novembro 2005

Vozes do Mar - 1

Vozes do Mar é o título de um poema de Florbela Espanca, que escolhi para epígrafe de três ilustrações de poemas sobre o mar. As imagens foram colhidas na frente marítima do Porto.




Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Antero de Quental

Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001

14 novembro 2005

«Viva o Porto Oriental»



Motivado pelo entusiástico comentário que um visitante anónimo deixou na entrada anterior, não resisti a deixar aqui três pormenores de três edifícios distintos...




...situados num conjunto que, num blogue lamentavelmente adormecido, foi classificado como « provavelmente, o mais belo esboço urbano do Porto».



Conjunto que, como ali é afirmado, «encerra em si, ainda hoje, um encantamento inultrapassável». Trata-se do espaço urbano compreendido entre as ruas que divergem a partir do Largo Soares dos Reis, em direcção ao Campo 24 de Agosto, ao Jardim de São Lázaro e à Praça da Alegria.

08 novembro 2005

Uma nova centralidade



Com esta entrada não pretendo celebrar nenhuma das modernidades tão apregoadas nos discursos vazios de conteúdo que vamos ouvindo no dia a dia, mas a verdade é que na parte oriental do Porto, votada ao abandono durante décadas a fio como se não pertencesse à cidade, há algo que, bem ou mal, está a mudar.



No final dos anos 90 foram pensadas para aquela zona três grandes intervenções, com os objectivos do ordenamento urbanístico e da criação de novas acessibilidades: a abertura da Avenida 25 de Abril e a construção de um viaduto sobre a VCI, a ligar a Praça das Flores à Corujeira; a criação de duas alamedas, a de Cartes e a de Azevedo, a partir do nó do Mercado Abastecedor; e a intervenção mais ambiciosa, a do Plano de Pormenor das Antas com o propósito de criar uma nova cidade com funções variadas.





Para aqui previram-se, três mil fogos, dois hotéis, um estádio de futebol, um pavilhão multiusos, um centro comercial, equipamentos de saúde e de ensino, um parque urbano com dez hectares, estacionamento para três mil viaturas e um interface para o metro.



Como as imagens documentam, parte do Plano de Pormenor das Antas está construído mas, a avaliar pelo falta de actualização desde 2002 do sítio da Apor - a Agência para a Modernização do Porto que promoveu estas e outras intervenções -, o equipamento de saúde, o de ensino e o tal parque urbano ficaram pelo caminho, confirmando o imobilismo camarário instalado há quatro anos na cidade.

06 novembro 2005

Tableaux vivants em Serralves





Os tableaux vivants consistiam na recriação de pinturas, ou de quadros do imaginário colectivo, com personagens que se mantinham imóveis e calados. Perdida a importância que tiveram como meio popular de diversão, antes do advento da rádio, do cinema e da televisão, os tableaux vivants continuam presentes em algumas encenações de carácter religioso, nos homens-estátua que a cada passo encontramos nas ruas das nossas cidades e - porque não? - no cinema de Peter Greenaway.
A exposição patente em Serralves traz, no entanto, outra abordagem contemporânea.
Nos trabalhos ali expostos fazem-se interagir técnicas como a pintura e o vídeo ou a escultura e o vídeo, explorando os conceitos espaço/tempo e mobilidade/imobilidade.
Entre outras, há duas obras muito interessantes de Rui Toscano realizadas para ecrã plasma, em que «o movimento real é quase imperceptível no contexto de uma imagem fixa». Representam o Rio de Janeiro e São Paulo «surgindo entre a reminiscência do postal turístico e a objectividade inexpressionista de um registo fotográfico». A não perder.

01 novembro 2005

Cores do Outono



A copa de um liquidâmbar...



...e outra árvore que não consegui identificar na parca bibliografia que possuo, apesar das amostras que recolhi no terreno: um ramo de folhas alternas com recorte marginal em forma de serra e um fruto redondo que parece e cheira a limão. Haverá alguém no grupo de especialistas que queira esclarecer-nos?