30 novembro 2005
Ainda as Vozes do Mar
Tanto quanto me apercebi, pela leitura dos comentários, das fotografias publicadas nas entradas abaixo, a mais apreciada foi a do Farolim de Felgueiras. Talvez porque, como comentou Funes , «Não há no Porto portuense nenhum que não saiba que nesta foto está a nossa essência de portuenses. De portugueses», referindo-se, quanto a mim, ao local, que está na retina de todos os portuenses, à neblina do litoral nortenho e à nossa condição de país atlântico.
A segunda foto não se sustentaria sozinha por falta de rigor técnico - por isso está no meio - mas foi assim que eu a quis, mar e céu apenas, vistos de frente, olhos nos olhos como quem conversa, a condizer com o poema. Está lá também aquele desfalecimento da luz, que Florbela Espanca designa como delíquio, termo que eu desconhecia.
A terceira foto é a minha preferida. Nela consigo ver «o céu pesado e nevoento», ouvir «a trágica voz rouca» do mar e sentir o vento «a passar como o voo de um pensamento», como refere o poeta. Há também ali algo de inefável que me remete para a pintura naturalista da segunda metade do século XIX.
Pretensiosismo da minha parte? Não, é apenas o gosto profundo pelas imagens.
______________________________
Sem tempo e com a motivação esmorecida, A Cidade Surpreendente esteve suspensa durante nove dias. Para que haja alguma regularidade nas actualizações do blogue, elas surgirão apenas uma vez por semana, às Quartas-Feiras.
Palavra de blogger!
A segunda foto não se sustentaria sozinha por falta de rigor técnico - por isso está no meio - mas foi assim que eu a quis, mar e céu apenas, vistos de frente, olhos nos olhos como quem conversa, a condizer com o poema. Está lá também aquele desfalecimento da luz, que Florbela Espanca designa como delíquio, termo que eu desconhecia.
A terceira foto é a minha preferida. Nela consigo ver «o céu pesado e nevoento», ouvir «a trágica voz rouca» do mar e sentir o vento «a passar como o voo de um pensamento», como refere o poeta. Há também ali algo de inefável que me remete para a pintura naturalista da segunda metade do século XIX.
Pretensiosismo da minha parte? Não, é apenas o gosto profundo pelas imagens.
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Sem tempo e com a motivação esmorecida, A Cidade Surpreendente esteve suspensa durante nove dias. Para que haja alguma regularidade nas actualizações do blogue, elas surgirão apenas uma vez por semana, às Quartas-Feiras.
Palavra de blogger!
21 novembro 2005
Vozes do Mar - 3
Fundo do Mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Farolim de Felgueiras,
Frente Marítima,
Poesia II
18 novembro 2005
Vozes do Mar - 2
Vozes do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
Florbela Espanca
17 novembro 2005
Vozes do Mar - 1
Vozes do Mar é o título de um poema de Florbela Espanca, que escolhi para epígrafe de três ilustrações de poemas sobre o mar. As imagens foram colhidas na frente marítima do Porto.
Oceano Nox
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Antero de Quental
Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
Oceano Nox
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Antero de Quental
Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
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